GIEL

2.1.7 Preposição (prep.)


A palavra preposição tem origem no latim praepositione e significa o “ato de propor”. Como o próprio nome indica, a preposição vem antes, ocupa uma posição anterior. Na verdade, a preposição estabelece uma relação entre dois termos, subordinado o segundo ao primeiro. O primeiro termo rege a preposição; daí falarmos em regência ( ou regime) de verbos. Substantivo e.adjetivos. Nota se que a preposição tomada isoladamente nada significa; ela ao tem valor gramatical dentro de um dado contexto.

Fórmula na oração:

Prep+ substantivo

 

  1. “É ofícial das preposições subordinar um elemento da frase a outro, apresentando o segundo como complemento do primeiro Ex: cheia de graça
  2. A palavra que serve de núcleo à construção, aquela cujo sentido vai ser modificado pelo complemento, chama-se antecedente; recebe o nome de conseguente a que se segue à preposição.
  3. O antecedente pode ser um substantivo, um adjetivo, um verbo, um advérbio e algumas interjeições; mas o consequente há de ser sempre um conceito substantivo (expresso por substantivo, pronome, infinitivo, oração substantiva, ou palavra substantiva).
  4. Casos como castigou-se por fraco, em que o consequente é um adjetivo, explicam-se pela omissão do verbo ser ( castigou- o por ser fraco) ou por cruzamento mental com outra construção do tipo desta: castigou-o por sua fraqueza.
  5. Adjetivo designativos de nomes de cores ( vestir-se de  branco) e advérbios de tempo e de lugar ( vou até lá, ficarei por hoje) têm o valor de substantivos quando vierem depois de preposição.
  6. Construíndas com pronomes pessoais, as preposições essenciais pedem as formas oblíquas tônicas mim, ti, si, etc. -, exceto com, que dá as combinações comigo, contigo, consigo, etc.
  7. Assim, a mim, ante mim, contra mim, de ti, sem mim, lutar por si, perante mim, entre mim e ti, etc.
  8. Já as preposições acidentais, isto é, palavras de outras de outras categorias que podem funcionar como preposições, não aceitam as formas oblíquas tônicos dos pronomes pessoais. Delas, exceto, salvo, fora, afora emprega-se com pronome pessoal em forma reta: ex: Saíram todos, exceto eu (ou salvo eu, fora eu, afora eu).
  9. Segundo, conforme, mediante, consoante, não obstante recusam conseguente pronominal, quer em forma oblíqua, quer em forma reta. Dar-se-á outra construção à frase, por exemplo: ex: conforme teu modo de ver.
  10. Finalmente, durante não se combina também à 1* e à 2* pessoa; “mas deve entender-se que nas locuções durante ela, durante ele, falando de tempo, o pronome está na forma reta”
  11. Dividem-se as preposições em fortes e fracas. As primeiras (contra, entre, sobre) guardam certa significação em si mesmas; as outras ( a, com, de) não têm sentido nenhum, expressando tão-somente, em estado potencial e de forma indeterminada, um sentimento de relação. No contexto é que se concretiza o valor significativo das várias relações que elas têm aptidão para exprimir.
  12. Meyer-Lubke, depois de declarar expressamente que sua sistematização era, até certo ponto, erbitrária, esboça uma classificação das relações fundamentais que as preposições podem denotar, grupando-se em cinco classes: preposições de lugar, de tempo, de modo, de instrumento, de causa e fim.
  13. O emprego abstrato e metafórico terá resultado de um desenvolvimento posterior. 
  14. Passemos a estudar isoladamente o uso e o significado das várias preposições portuguesas: 

A

1 Introduz os vários tipos de objeto indireto, correspondendo, portanto, o seu emprego ao emprego normal do dativo latino:

“Iracema, depois que ofereceu aos chefes o licor de Tupã, saiu do bosque.” (José de Alencar)

2 inicia o objeto direto preposicional:

“A noite, mãe caritativa, encarregava-se de velar a todos.” ( Machado de Assis)

3 Rege o complemento de muitos adjetivos, especialmente os que significam:

a) disposição de ânimo em relação a um objeto: aceito, agradável, caro, grato, favorável, benigno, fiel, dócil, propício, leal, amigo, contrário, hostil, traidor, avesso, adverso, rebelde, odioso, refratário, útil, nocivo, prejudicial, pernicioso, sensível, duro, surdo, cego, mudo, atento, alheio;

b) aproximação: próximo, propício, vizinho, adstrito, comum;

c) semelhança: semelhança, análogo, igual, idéntico, equivalente, conforme, paralelo;

d) concomitåncia: coevo, coetâneo, contemporâneo

Além desses:

e) os adjetivos em -nte, derivados de verbos que se constroem com a (sobrevivente, correspondente);

f) os particípios passivos de verbos reflexos que se constroem com a ( afeiçoado, acostumado, parecido);

g) os comparativos formais anterior, posterior, superior e inferior. 

Ex: “Pois eu digo que este é o tempo aceito a Deus…” (Rui)

4- Enceta o complemento de alguns substantivos verbais, que conservam o regime dos verbos correspondentes: obediência, submissão, adaptação, adesão, alusão, assistência, etc.

Ex: “… não podia tanto comigo a consciência da sujeição ao dever, que…” (Camilo)

De ordinário, o substantivo (como objeto direto) forma corpo com o verbo, e o complemento se prende mais propriamente ao conjunto ( fazer guerra a, ter horror a).

5) Encabeçando complemento circunstanciais, exprime um sem-número de relações:

a) Termo de um movimento, de uma extensão ou de um transcurso de tempo: 

“Os homens tinham entranhas para deitar Jonas ao mar…” (Vieira)

b) Proximidade, contigüidade:

“… põe-se à mesa, e prepara-se para escrever… (Garrett)

“Nos seguintes versos o nosso Alberto de Oliveira (Poesias, 3. Série, 1928, pág. 52) mostra a diferença que geralmente se faz entre na mesa (= junto à mesa, para nela fazer algo) e à mesa (= junto à mesa, para nela fazer algo):

c) Posição, situação: 

“Aquela cinza azul, que o Céu estende

À nossa mão esquerda…” (claúdio Manuel da Costa)

d) Direção:

Já me não era pouco a graça (pelo qual erguia as mãos ao céu) de abrir os olhos à realidade evidente da minha impotência…” (Rui)

e) Distância:

“A um tiro de besta abria-se um vale entre dois montes, cimos cimos se prolongavam para o norte.”(Herculano)

f) Tempo:

” Beatriz apenas saíra do letargo em que ficara à partida do monge…”

Além de indicar o momento rigoroso cômodo último exemplo, ainda que era ás segundas, e quintas-feiras…(Camilo)

g) Concomitância:

“…e recitava versos dele ao piano…” (Camilo)

Em certas construções torna-se mais complexa a idéia de simultaneidade: a preposição denota “fenômeno ou ação, em concomitância com o qual ou a qual, ou em consequência ou por influência do qual ou da qual outro fenômeno ou ação se produz” )Silveira, Lições, pág. 294):

“Fechai logo esta porta por dentro, e não abrais senão à minha voz.” (Garrett)

Neste tópico, a nosso ver, cabe classificar os complementos que indicam o agente físico a que alguém ou alguma coisa está exposta:

“Uma tarde a Brites tecedeira sentara-se em um toro de castanho à porta do casebre, aquentando-se à réstia do sol…” (Camilo)

h) Motivo:

“Então, a rogos, promessas e protestos dos companheiros, Francia volta.” (Rui)

i) Fim:

“Era domingo: o sino tocava à missa…” (Herculano)

J) Modo:

“partiram a galope ambos para o mesmo lado…” (Herculano)

Pode incluir-se nesta classe o emprego da preposição a nos complementos que denotam o regímen de alimentação a que alguém está sujeito ou se submete: 

“Prometeu à Virgem jejuar três dias a pão e água…” (Herculano)

l) Conformidade

“Isto suposto, quero hoje à imitação de S. Antônio voltar-me da terra ao mar, e já que os homens se não aproveitam, pregar aos peixes.” (Vieira)

m) Meio

“… deixa ainda ondulando o berço do filhinho, o qual adormeceu a custo de muito embalar.” (Herculano)

n) Causa:

“Deus não desampara ao justo, nem o deixará parecer à fome.” (Bernardes)

o) Instrumento:

“Até, até se viram/ terreno a enxadão com agro afã rasgado,” (Castilho)

p) Quantidade, medida e preço:

“… declamavam enfaticamente versos a milhares…” (Camilo)

q) Referência “de uma cousa a outra que serve de norma ou tipo.”

“Que é isto? Assassinato é coisa que me não cheira a idioma de Bernardes e Barros”. (Camilo)

6) Junto a verbo no infinitivo, forma orações reduzidas que expressam condição, tempo, fim, concessão, etc.

Ex:

a) Condição (equivale a se acompanhado do pretérito ou do futura do subjuntivo)

“A  ser tal culpa sabida/ sei certo que este desvairo/ pagarei com minha vida…” (Cristóvão Falção)

b) Tempo (vale por quanto, e neste caso é o infinitivo precedido de artigo):

“Ao vir da primavera, a rosa lhe floria/ mais cedo que a ninguém…” (Castilho)

e) Fim (concorrentemente com para):

Às onze horas entrou na Câmara. Dir-se-ia que entrava Cícero a delatar a conjuração de Castilha.” (Camila)

Pode dar-se, em frases deste gênero, que o infinitivo tenha sentido passivo:

“Então o imperador dava outra vez a mão a beijar, e saía, acompanhado de todos nós…”(Machado de Assis)

d) Concessão (corresponde a ainda que, e é construção arcaizada):

“Os perigos, os casos singulares,/ Que por mais  mil léguas toleramos,/ Não contara, depois que no mar erro, / A ter o peito de aço, e a voz de ferro.”

7) Com esta preposição formam-se numerosas locuções adverbiais:

“ás vezes, ás claras, à saúde, ás escura, às justas, a preceito, a medo, a rodo, a ponto, à uma, à ventura, etc…

8) É quiçá mais usada em Portugal do que no Brasil a preposição a. Anotem-se certas construções em que se patenteiam tal preferência:

Brasil 

Por

Ex: partir pelo meio

Falar pelo telefone

Fazer-se pelo seu próprio esforço

Por derradeiro

De

Ex: coberto de telhas

Ir de rastro

Adornado de plumas

Sair de manhãzinha

Caçada da lebre

Para

Ex: morrer para o mundo

Contribuir para a vitória

Com

Ex: Provar com argumento

Castigar compalmadas

Em

Ex: ter sorte no jogo

Estar em circulação

De grão em grão

De longe em longe

Em benefício do ensino

Em busca de trabalho

Alistar-se no batalhão

Assoar-se no lenço

Limpar as mãos na toalha

Trazia um cravo no peito

Foi estudar em Paris

Estar em (de) férias

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Portugal

Por

Ex: partir ao meio

Falar ao telefone

Fazer-se a seu próprio esforço

Ao derradeiro

De

Ex: coberto a telhas

Ir a rastro

Adornado a plumas

Sair à manhãzinha

Caçada à lebre 

Para

Ex: Morrer ao mundo

Contribuir à vitória

Com

Ex: provar a argumentos

Castigar a palmadas

Em

Ex: ter sorte ao jogo

Estar à circulação

De grão a grão

De longe a longe

A benefício do ensino

À busca de trabalho

Alistar-se ao batalhão

Assoar-se ao lenço

Limpar as mãos à toalha

Trazia um cravo ao peito

Foi estudar a Paris

Estar a férias

Cont.

(Fonte: Gramática normativa da língua portuguesa; curso médio; prefácio de Serafim da Silva Neto. 24 ed. Rio de Janeiro. José Olympio, 1984.)